Habituação é o nome da nossa tendência de responder menos a algo quanto mais estivermos expostos a isso. Esse conceito é academicamente importante para psicólogos e biólogos, mas também tem uma enorme significado para qualquer um que pensa em mixagem e masterização musical de forma séria.
Essa tendência provavelmente surgiu em nós através da evolução. Nossos antepassados, caçadores primitivos, usavam a habituação para eliminar os elementos desinteressantes que os rodeavam.
Eles dependiam ver os movimentos entre as árvores e gramíneas estáticas, além de ouvir pequenos sons entre o ruído de fundo constante, tanto para procurar alimento quanto para evitar que se tornassem alimento! Mas até hoje esse filtro dos sentidos à informação repetida é importante. Nós rapidamente sucumbiríamos à sobrecarga de informações se nós nos concentrássemos em todos os estímulos que nos são enviados por nossos sentidos, 11Mbps, ou 120Gbs por dia, segundo algumas estimativas. Sem a capacidade de filtrar essas informações, nós seríamos inundados.
O mecanismo pelo qual é conhecido como filtro de adaptação sensorial. Em suma, nossos cérebros dão maior importância sobre as mudanças no estímulo do que no nível absoluto global de estímulo. Você provavelmente está mais familiarizado com o efeito que se refere à sensibilidade à luz e sensibilidade à temperatura. Saia de casa em um dia ensolarado, e você vai ficar cego por alguns momentos. Passe as mãos na água fria após manusear gelo, e você vai perceber que a água gelada parece apenas estar “fria” quando temos água quente para o contraste. A nossa percepção sensorial é relativa.
Como engenheiro de mixagem, é importante perceber que a audição humana também está sujeita a adaptação sensorial. Observe como você se torna consciente de um ar condicionado ou geladeira quando o dispositivo deixa de fazer som. Seu cérebro está atento a mudança e não ao nível global. De fato, se estamos constantemente expostos a estes sons de fundo, nós temos cada vez menos atenção para perceber os sons que possam ser realmente importantes. Nós não estamos ouvindo predadores como os nossos antepassados, mas ainda precisamos ouvir o telefone tocar, ou o carro se aproximando.
A importância disso para pessoas que trabalham com música é muito bem definida em uma dica de mixagem da revista norte-americana Sound On Sound:
Nunca presuma que seus ouvidos sempre dizem a verdade. Descanse antes de fazer a mixagem, e constantemente tome referências de gravações comerciais sendo executadas em seu equipamento, para que você tenha um caminho para seguir.
Nossos ouvidos se acostumar com sons repetidos. E mixar é exatamente isso: ouvir os mesmos sons repetidamente. Então, os engenheiros de mixagem precisam ser particularmente conscientes da adaptação sensorial, e o efeito “filtro” que possui a nossa audição.
Ao conferir um CD de referência periodicamente enquanto mixa, vai assegurar que a habituação e a adaptação sensorial, não vão lhe impedir de conseguir um som balanceado. O CD de referência dá aos seus ouvidos um novo parâmetro de mudança, deixando o seu cérebro mais honesto.
Esse problema da habituação é mesmo muito sério. Um engenheiro de mixagem, amigo meu, mixa sempre como o que eu chamo de “Assinatura de Mixagem”. Eu posso identificar aquelas mixagens só de ouvir alguns segundos. Ele desenvolveu um estilo de mixagem, baseado em seus sentidos auditivos, que é muito marcante para quem ouve. Claro, não quando ele ler esse artigo vai procurar quebrar um pouco essa “corrente de percepção”.
Nossos artigos estão falando muito de ouvidos e mixagem, o que é muito importante para o seu resultado, quando chegar a sua vez de mixar.
Continue seguindo as lições do Blog.
Abraço!
